Caso: Bar Bodega



O livro-reportagem escrito pelo jornalista Carlos Dorneles, em que conta detalhadamente como o crime foi amplificado pela imprensa e faz um levantamento minucioso sobre o caso.







Em 1996, um crime despertou a atenção da imprensa brasileira: cinco assaltantes entraram em um bar às duas da manhã, renderam funcionários, assaltaram clientes e, como se não bastasse, partiram para a violência gratuita. Ao tentar tirar o relógio do pulso de um cliente, um dos assaltantes se assustou e atirou no próprio braço. Sem saber o que acontecia, o dentista José Renato Taha entrou no bar, foi rendido, agredido e morto com um tiro nas costas ao tentar se levantar. Durante a fuga, um dos assaltantes deu um tiro aleatório para o bar, que atingiu e matou a estudante Adriana Ciola.

A imprensa:

O caso chamou a atenção da imprensa por cinco motivos: a brutalidade dos assaltantes; a localização do bar em um bairro da classe média; as vítimas pertenciam à uma boa classe social; o bar pertencer a atores conhecidos da Globo, sendo estes Luis Gustavo, Tato Gabus Mendes e Cássio Gabus Mendes; e o evento ter ocorrido durante uma acirrada disputa eleitoral para a prefeitura de São Paulo. 
Na época, devido à pressão da população, da família e da imprensa, a polícia acusou o menor Cléverson, 17 anos, de ser chefe da quadrilha que matou o dentista e a estudante e, após ser torturado, acabou confessando o crime e acusou colegas de terem participado. No entanto, todos eram inocentes e Cléverson não sabia nem a localização do bar. 
A cada nova notícia, a imprensa ficava eufórica por mais justificativas para apresentar à população, enchendo os jornais com manchetes sensacionalistas e a televisão com matérias exageradas. Os jornais, não satisfeitos com os erros cometidos dois anos antes no caso Escola Base, cometeram mais um. A imprensa foi culpada em acusar erroneamente e sem provas os nove jovens inocentes que, a partir daí, tiveram suas vidas totalmente prejudicadas.
O deslize da imprensa poderia ter sido evitado se houvesse uma apuração mais delicada e aprofundada do caso, além, é claro, da imparcialidade, pois muitos jornalistas tomaram para si uma luta contra a violência da época e juntaram-se ao movimento “Reage São Paulo”, criado pela classe média paulistana que pedia, entre muitas coisas, a redução da maioridade penal.

Desfecho:

Em novembro do mesmo ano, a polícia conseguiu prender dois dos verdadeiros culpados: Silvanildo Oliveira da Silva, 36 anos, e Sandro Márcio Olimpio, 34 anos. Os outros foram presos nas semanas seguintes e as penas variaram entre 23 e 48 anos de reclusão. O bar Bodega é mais um exemplo de abusos da imprensa, que não se preocupou em contar o desfecho verdadeiro. Pouco antes de completar 20 anos, Cléverson foi assassinado, a polícia não se preocupou em investigar o caso e a imprensa nunca se retratou ou publicou notícias sobre o destino dos inocentes que foram acusados.  

Texto: Gabriela Rubia Bastos

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